Uma equipe formada por associados da AME-ES, resgatou dezenas de ninhos em um muro que já vinha sendo monitorado através do Conselheiro Thiago Branco, quem iniciou os primeiros resgates.
Com a situação do muro foi piorando, Thiago solicitou ajuda e os abelheiros partiram para a ação.
O muro já caindo oferecia risco. Foi derrubado no dia seguinte |
A pedido do Blog, os guerreiros contaram a história: Gabriel Bouez começou os estudos a apenas seis meses, mas não fugiu da responsabilidade:
Ele explica que até pouco tempo não conhecia nada sobre meliponicultura:
- "Mas ainda bem que isso mudou, e graças ao meu amigo biólogo e amante das ASF, Nilton Emmerick, que me apresentou esse mundo maravilhoso das abelhas nativas! E desde então foi uma imersão profunda e de muito aprendizado, e quando percebi já estava completamente apaixonado por esses seres tão importantes... Quanto mais eu pesquisava a respeito do assunto mais me interessava, eis que surgiu em novembro de 2016 a oportunidade de assistir a uma palestra a respeito de pasto melífero promovida pela AME-ES e essa foi a primeira vez em que tive contato com a associação, e logo de cara já sabia que queria me associar também e assim o fiz. O que me colocou em contato direto com meliponicultores de todo o estado, um poço de aprendizado e experiência sem fim"...
Em seguida, Gabriel Bouez revela a experiencia:
"... Embora as condições climáticas não favorecessem o manuseio das colmeias... tínhamos que fazer o resgate ou as colmeias morreriam inevitavelmente... porém no domingo o clima deu uma melhorada... Estando melhor preparados e já com a experiência do dia anterior conseguimos otimizar o procedimento de resgate, contando ainda com o auxílio de mais dois associados, Vinícius Figueira e Paulo Henrique, que trouxeram mais caixas e ferramentas, além da ajuda também de alguns moradores da região... se interessaram pelo trabalho e ficaram felizes de nos ajudar, conseguimos então fazer a remoção de todas as colmeias já identificadas no dia anterior, assim como novas colmeias que não havíamos visto. Foram dois dias inteiros de intenso trabalho e dedicação exclusiva, mas de imensa satisfação por poder salvar tantas colmeias na iminência da destruição. Ao final, metade das caixas com colmeias resgatadas foram doadas à AME-ES..., a fim de que sejam feitos trabalhos socioeducativos e de conscientização, a outra metade foi divida e realocada entre os heróis responsáveis pelo regate, incluindo os moradores da região do muro que se dispuseram prontamente a nos ajudar, estes que terão o devido suporte e auxílio da associação no que diz respeito aos cuidados e manejo das abelhas, a fim de que a importância da preservação de nossas abelhas nativas seja repassada para o maior número de pessoas possíveis na região.
Em minha breve vivência neste mundo das ASF essa foi com certeza a experiência de maior aprendizado e que nos coloca sempre em reflexão a respeito da quantidade de colmeias que se encontram na mesma situação de ameaça em muros ou barrancos espalhados pelo estado, assim como por todo o país. E que possamos expandir cada vez mais a nossa comunidade e conscientizar o maior número de pessoas possíveis, a fim de angariar cada vez mais anjos guardiões e protetores de nossas tão ameaçadas abelhas nativas sem ferrão!"
Nilton Emmerick, também estava lá e explicou um pouco sobre a metodologia:
"O resgate aconteceu nos dias 3, 4 e 5 de fevereiro de 2017, em um muro que estava na iminência de cair, na cidade de Anchieta-ES. A previsão para a demolição do muro e construção de um novo estava previsto para dia 6 de fevereiro de 2017, ressaltando a importância das ações emergenciais (resgate). Além disso, partes do muro já haviam desmoronado levando a morte de 3 colmeias na semana anterior. No local foram encontradas quase trinta colmeias de abelhas nativas. Dentre elas, a que apresentou maior abundância em número de colmeias resgatadas foi a Mirim-guaçu (Plebeia remota). Também foi encontrada uma colmeia de Jataí (Tetragonisca angustula), uma de Lambe-olhos (Leurotrigona muelleri)"...
...Participamos do resgate nos dias 4 e 5. No primeiro dia, a logística se deu da seguinte maneira. Organizamos todo o material necessário para o resgate e fomos para o local. Começamos, então, a identificar e marcar todas as colmeias que íamos encontrando. A marcação foi feita com um pedacinho de fita crepe colocado próximo à entrada de cada enxame. Neste dia, estávamos em 3 pessoas e só tínhamos 8 caixas prontas, portanto esse foi o número limite de colmeias resgatadas no dia. No segundo dia conseguimos confeccionar mais caixas, estávamos em maior número o que significou o resgate mais 17 colmeias.
Cada resgate ocorreu da seguinte maneira: primeiramente, deixávamos próximo todo o material a ser utilizado para cada resgate. Em seguida, abríamos os blocos de concreto com o auxílio de martelos, marretas ou picaretas, tomando sempre o cuidado de não danificar a parte interna. Uma vez tendo acesso à parte interna do bloco, retiravam-se os discos de cria com muito cuidado, utilizando a faca para cortar as ceras estruturais e facilitar esse processo. Cabe ressaltar que sempre procurávamos pela rainha e caso ela não estivesse nos discos de cria, fazíamos uma busca pelo resto da parte interna do bloco. Se ainda assim não a encontrávamos, retirávamos, cuidadosamente, os potes de pólen e mel os quais estavam abarrotados de abelhas e que continham a rainha, caso não tivesse sido encontrada nos processos anteriores. Neste caso, sugamos com o sugador primeiro a rainha e depois todas as campeiras que conseguíamos, para posteriormente transferi-las para as caixinhas que eram vedadas com fita Kraft ou fita crepe. Os potes de pólen e mel eram então acondicionados nas sacolas alimentícias para posterior filtragem e reaproveitamento de cera. Ainda, no final da tarde, voltávamos aos blocos para resgatar as campeiras que haviam retornado da coleta do dia, com auxílio do sugador".
Já Thiago Branco, foi diretamente responsável pelo salvamento. Não descansou enquanto não viu a situação resolvida. Ele reconhece o esforço e dedicação dos nossos associados:
"só tenho a agradecer aos heróis que num esforço mutuo conseguiram salvar da destruição 43 enxames (em 8 meses de resgate). Todos os enxames do gênero trigona, entre as espécies: marmelada (Frieseomelitta varia), jatai (Tetragonisca angustula), lambe olhos (Leurotrigona muelleri), mirim guaçu (Plebeia remota).e uma quinta espécie que ainda não foi reconhecida.
Todos estes enxames permanecem na região de ocorrência (mata atlântica - ES), e sua grande maioria em torno do local retirado para que não prejudique a polinização da vegetação do entorno", Esclarece Thiago.
Isso um exemplo do verdadeiro sentido do termo resgate. É muito diferente de mera retirada de ninhos que não estão em risco que muitos denominam resgate.
Foi necessário muito cuidado
Um muro com muita vida que se perderia |
Mirim Guaçu |
Postado por João Luiz Teixeira Santos - Presidente da AME - ES
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